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Jurassic Pocket

  • Foto do escritor: Vida de Treinador
    Vida de Treinador
  • 16 de mar.
  • 7 min de leitura
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Desde Kanto, fósseis fazem parte da história de Pokémon - eles já eram cinco dos 151 da KantoDex. De lá para cá, muitos outros pokefósseis foram surgindo e, nesse artigo, vou tentar falar um pouco sobre as referências paleontológicas deles; algo que já foi mais trabalhoso no passado, mas agora é tranquilo, pois, desde 2021, a Pokémon Company tem um projeto para falar sobre os pokefósseis de suas gerações, o "Pokémon Fossil Museum", que viaja por várias cidades no Japão com sua exibição itinerante e conta também com uma visita virtual.


Até o fim de 2025, o projeto terá sido exposto em 15 espaços diferentes - maior parte deles museus. Todos eles localizados no Japão. O projeto mescla réplicas de esqueletos de dinossauros com esqueletos de Pokémon.
Até o fim de 2025, o projeto terá sido exposto em 15 espaços diferentes - maior parte deles museus. Todos eles localizados no Japão. O projeto mescla réplicas de esqueletos de dinossauros com esqueletos de Pokémon.

Embora o termo "Jurássico" seja muito usado para se falar de fósseis e dinossauros, nem todo pokefóssil é desse período. Para entender quem é quem na paleontologia, vamos recapitular região por região quem são os fósseis de cada uma. E, com especulação e ajuda do que foi oficializado no projeto do PokeMuseum, entender quais referências os designers se basearam para fazer esses seres.


  1. Fósseis de Kanto e Johto

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Dois dos fósseis de Kanto existem muito muito muito antes da Era Mesozoica (popularmente chamada de "Era dos Dinossauros").


Foi na Era Paleozoica, no período Cambriano, ocorrido entre 542 milhões a 488 milhões de anos atrás, que se deu o surgimento dos primeiros animais com conchas e esqueletos mineralizados. Já da pra sacar aí que tanto Omanyte quanto Kabuto (e suas evoluções) têm essa característica cambriana, sendo em Omanyte a concha espiralada bem óbvia e, em Kabuto, uma espécie de capacete duro cobrindo a "cabeça" como exoesqueleto.


Omanyte, como o nome não deixa esconder, é baseado em amonites - moluscos que dominaram os mares durante milênios, mas foram de arrasta junto ao meteoro que dizimou os dinossauros. Há quem teorize esse amontoe ser do gênero Perisphinctes, cujos fósseis são encontrados no Japão - região em que Kanto e Johto são baseadas.


Kabuto provavelmente é uma trilobita, do filo dos artrópodes - não à toa que ele parece um baratão gigante de meter medo em giratina descalça. Alguns fãs veem semelhança entre os kabutos e os límulos (conhecidos como caranguejos-ferradura), mas admitir isso seria ignorar a lógica de ele precisar ser um fóssil; não um bicho cotidiano.


Por terem hábitos marinhos, não é de se estranhar que tanto Omanyte quanto Kabuto (e suas evoluções) tenham o tipo "Água" quando revividos (o tipo Pedra sempre vem como herança do fóssil).


Fóssil Concha, Fóssil Espiral e Velho Âmbar
Fóssil Concha, Fóssil Espiral e Velho Âmbar

Aerodactyl, apesar de já ter aquela carinha de dinossauro, ele é um pterossauro. Na exposição do Fossil Museum, inúmeras espécies dessa classificação são referenciadas como correlatas do Aerodactyl, mas a maior probabilidade é que quem desenhou estivesse pensando mesmo mesmo em um pterodáctilo, não só pela semelhança do nome em inglês, mas por um motivo cultural: Jurassic Park, filme de grande sucesso de 1993, havia popularizado naquela década alguns dinossauros em específicos; sendo este um deles - e é dessa película, aliás, que deve vir a referência do Âmbar que ressuscita Aerodactyl, já que até um mosquitinho no âmbar original, o Sugimori colocou.


Ué, Sugimori, QUEM É ESSE POKÉMON que está fossilizado na resina????
Ué, Sugimori, QUEM É ESSE POKÉMON que está fossilizado na resina????
  1. Fósseis de Hoenn

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Em Kanto & Johto, a ideia de encontrar dois fósseis mas só poder escolher um acabou gerando um padrão que se repetiu em várias regiões subsequentes. Se na I e II Geração, ambos os pokefósseis tinham Água na sua tipagem, Hoenn fez diferente: trouxe um com tipo Planta e o outro com tipo Inseto - ainda que ambos os seres em que se baseassem vivessem nas águas pré-históricas, tal qual seus predecessores de região. Chega de Água.


Apesar de parecer um baldinho de pi*oca, Lileep é baseada nos lírios-do-mar (fácil de deduzir, já que o nome de lírio em inglês é lilly) e, ainda que pareçam plantas, eles são, na verdade, animais (classificação a que pertencem também as estrelas-do-mar). Apesar de terem surgido a milênios, desde o período cambriano, os lírios-do-mar seguem firme e forte existindo, apesar da redução do seu tamanho.


Já o Anoryth foi baseado num Anomalocaris, um ser que foi abraçar Arceus e nunca mais voltou. Os Anomalocaris são do filo Arthropoda, tal qual os insetos são, e talvez essa tenha sido a justificativa para ele ganhar essa tipagem.


Fóssil Raiz e Fóssil Garra
Fóssil Raiz e Fóssil Garra
  1. Fósseis de Sinnoh

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Em Sinnoh, essa coisa de bicho do mar foi superada e a Game Freak abraçou a vibe DinoRock da revista Recreio sem medo de ser feliz. Shieldon e Bastiodon vieram com o tipo Aço, enquanto Cranidos e Rampardos eram pura Pedra. A ideia, desta vez, foi de transformar os pokefósseis em rivais. Não à toa, um usa a cabeça pra destruir as coisas, e o outro a cabeça é basicamente uma muralha de proteção.


Usem Protect
Usem Protect

Para o Cranidos e Rampardos, a escolha referencial parece ter sido o paquicefalossauro, um dinossauro cabeçudo, que tinha um monte de chifre em sua cabeça-dura multiuso: servia para atacar, defender, derrubar árvore e disputar fêmeas. Eita, como é versátil.


Já para o Shieldon, provavelmente os ceraptosídeos foram a família de dinossauros referida (sem chifre primeiro, como o miúdo do Protoceratops, e depois, evoluindo para Bastiodon, já com mais ponta, o robusto do chasmossauro).


O interessante é que, como ambos viveram na mesma época e eram herbívoros, talvez tenham, há milênios, disputado realmente o mesmo prato de alface pré-histórico com lichia. O designer fez o dever de casa direitinho.


Fóssil Crânio e Fóssil Armadura
Fóssil Crânio e Fóssil Armadura

A sacada da rivalidade, aliás, foi uma das mais bem pensadas entre os pokefósseis: Cranidosne Rampardos têm comportamento mais agressivo e atacam com a cabeça por qualquer bobagem; não à toa seu base stats de Ataque Físico é altíssimo. Porém, ao atacar Shieldone Bastiodoj com golpes de seu tipo natural, Pedra, o dano é mínimo: 0,5!


O inverso também é interessante. Shieldon é Bastiodon têm uma personalidade mais comedida, mais defensiva, contudo, sua tipagem de Aço lhe dá vantagem para atacar Cranidos e Rampardos com dano em dobro, só que... o base stats de Ataque dele é pífio, ficando quase tudo para as Defesas.


  1. Fósseis de Unova

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Tartarugas são seres que atravessam as eras, então, pra entender quem inspirou Tirtouga e Carracosta, é preciso pensar: Qual tartaruga pré-histórica fossilizada foi a referência, se há tantas? E talvez a resposta esteja no design, que colocou um casco com círculos em baixo-relevo, como se fossem marcas depressoras na carapaça...


Justamente isso era comum na tartaruga marinha protostega (embaixo tem uma imagem simulando sua existência). Ao evoluir, já que Carracosta é um jabuti gigante, pode ser que também haja uma referência à imensa Archelon, como maior parte das teorias cogita. No Fossil Museum, inclusive, é Archelon que aparece mencionado, pelo menos.


O nome não nega: Archen e Archeops certamente são homenagens ao Archaeopteryx, uma das descobertas mais valiosas para certificar a Teoria da Evolução, por ser um possível elo evolutivo entre répteis e aves. E sabe como isso se deu no mundo real? Com a descoberta de uma pena fossilizada, em 1861. E por que estou destacando isso? É que o fóssil que revive Archen nos jogos é justamente uma pena e nada mais!


Fóssil Casca e Fóssil Pena
Fóssil Casca e Fóssil Pena

  1. Fósseis de Kalos

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Em Kalos, não há mistério para ninguém, afinal a alfabetização jurássica coletiva conhece de ouvido os nomes "Tiranossauro" e "Pescoçudo". E é bem por aí mesmo. Mas com ressalvas.


Essa formação ao redor do olho do Tyrant e do Tyrantrum que parece dar a ele uma sobrancelha é comum em um gênero específico de tiranossaurídeo: o Gorgosaurus - uma referência ratificada quando se vê o nome original em japonês muito similar a esse som (Chigoras e Gachigoras).


Pegando carona nessa ideia de checar o nome nipônico, fica também claro que, dentre todos os saurópodes (grupo de dinossauros de pescoço comprido que no BR se acostumou a chamar de Pescoçudo), o designer focou no Amargasaurus, ao ponto de batizá-lo de Amaruruga, em japonês. O Amargasaurus era um saurópode meio que com uma crina tal qual as "velas" que Aurorus usa pra se guiar no frio.


Fóssil de Mandíbula e Fóssil Vela
Fóssil de Mandíbula e Fóssil Vela

No Fossil Museum, tanto o Tyrantrum quanto o Aurorus têm fósseis replicados imitando as relíquias reais escavadas e montadas em grandes salões. Também tem esqueleto de Kabutops, fóssil de Helix e até casco de Tirtouga.


Tentando entender aqui quem foi que resolveu transformar as velas de Aurorus em OSSO.
Tentando entender aqui quem foi que resolveu transformar as velas de Aurorus em OSSO.
  1. Fósseis de Alola e Galar


Depois de algumas gerações com os fósseis sendo quase que uma obrigação, Alola quebra a tradição. Mas, o que parece um vacilo, na verdade é: Design de Imersão!


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Acontece que as atividades vulcânicas que geraram as ilhas do Havaí começaram após a extinção dos dinossauros. As ilhas havaianas, em que Alola se baseia, surgiram entre 5 milhões a 2 milhões de anos, enquanto os dinossauros foram extintos há cerca de 66 milhões de anos.


Quanto a Galar, bem Galar tem pokefósseis, né? Talvez os mais odiados da franquia, só que para explicá-los, precisava destacar alguns pontos da história da Paleontologia, então fiz um post específico que pode ser lido aqui.


Contudo, ainda assim, acho válido destacar que vários fósseis, sem precisar ressuscitar, estão vivíssimos e pleníssimos andando em Galar como se um minior gigantesco não tivesse caído na Terra e dizimado eles.


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E sabe, por que isso especificamente na DLC "The Crown Tundra"? Porque o Sul de Galar, se comparado ao Sul da Inglaterra, é justamente onde se concentraram a maior parte das descobertas de fósseis de dinossauro do mundo todo.


O condado de Oxfordshire fica exatamente nessa parte, no Sul, e a universidade Oxford foi pioneira nos estudos dos dinossauros justamente por esse potencial da região. Eita, como o Pix dos designers foi bem pago.


James Turner, você sempre será famoso.


Ah, e os seres "paradoxos" de Paldea a gente conversa outro dia, porque aqui o LSD é outro.
Ah, e os seres "paradoxos" de Paldea a gente conversa outro dia, porque aqui o LSD é outro.

Bonus Track

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Uma coisa para qual o Fossil Museum desperta seus visitantes é para a compreensão de que não só os pokefósseis fazem referências a eras pré-históricas (ou muito antigas). No guia de visitação, Crustle, Mamoswine, Yanmega e Relicanth também são mencionados como seres que têm relações profundas com seus ancestrais (por isso mesmo, alguns deles evoluem aprendendo o "Ancient Power").


Nestes casos, contudo, o tipo Pedra não vira regra, já que ele é uma herança do material da fossilização que o revive. Mas, sobre esses pokés, falaremos em outro encontro. Até breve.


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Se você acha essa postagem interessante, também tem um artigo científico muito legal e ilustrativo que encontrei aqui.


P.S.: Este postagem não é feita por um paleontólogo, mas a partir de pesquisa e consulta a amantes da área; qualquer necessidade de reparo, só falar (antes de o Sindicato de Paleontologia vir caçar minha cabeça).


O Gomes Francisco ainda está na versão beta; calma que concluo tudo do site em breve

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