PokeCheck: Fósseis de Galar

Uma excelente lição sobre Design pode se aprender com os fósseis de Galar. Certa vez, chamei esse aprendizado de "Ok, entendi o conceito, mas não gostei". Por isso, antes de ler essa publicação, já entenda que o objetivo daqui não é te fazer gostar desses fósseis, mas entender o processo criativo que gerou eles. Digo isso, 100% ciente que as pessoas estão na internet, atualmente, mais interessadas em odiar do que aprender algo, mas sigo firme e, se você também, vamo nessa.

Como dito em outra publicação, os fósseis trouxeram à franquia a possibilidade de abordar não só a fauna e a flora atuais de uma região em que o jogo se baseie, mas também de revisitar a natureza de outras épocas. Kabuto e Omanyte, por exemplo, estão na primeira geração porque os animais em que eles se baseiam são comuns no passado do Japão - e põe passado nisso: mais de 500 milhões de ano, um período conhecido como Paleozoico (especificamente o Cambriano).

Já o período Mesozoico, popularmente conhecido como “Era dos Dinossauros”, aconteceu entre 250 milhões a 66 milhões de anos atrás; e foi, sobretudo na Inglaterra, milênios depois, entre os séculos XVII e XIX que os fósseis desse período começaram a ser descobertos, estudados e categorizados.

Gosto muito dessa imagem do Reddit, porque ela não se limita à análise geológica apenas aos fósseis revividos, mas supõe também a era de outros seres a partir de dedução paleontológica.

Durante os anos 1800 e 1900, na Europa, quando as primeiras ossadas de dinossauro estavam sendo descobertas, muitas reconstituições se calcavam nas lendas em alta pra sustentar seus B.O. Eram tantas histórias de cavalaria envolvendo dragão, histórias gregas e egípcias descrevendo seres híbridos, com pedaços de corpos misturados, e histórias bíblicas falando de gigantes, que, ao serem descobertas em escavações, muitos esqueletos eram remontados já enviesados de que era real a outrora ficção.

Nessa Pré-Paleontologia FreeStyle, muitos estudiosos misturaram peças aleatoriamente - já que até mesmo saber a idade dos artefatos era difícil com a tecnologia de então e, assim, rolou um DIY dinossáurico, em que fóssil jurássico se misturou com osso contemporâneo e chifre virou presa e pelo virou escama e crânio de mamífero marinho se misturou com caixa torácica de réptil terrestre e, enfim, a bagunça estava feita.

O pessoal da época vendo osso de dinossauro e achando que era de unicórnio nessa energia aqui.

Um dos casos mais famosos e comentados até hoje para falar desse Período Bagunçózico é "O Unicórnio de Magdeburg". No meio do século XVII, um pesquisador alemão declarou ter descoberto a comprovação de, nada mais nada menos, que um unicórnio! E a fic dele não só foi recebida pelo povo da época com festa e folia, como também por amigos cientistas. Daí a zuada tava pronta: era I Do Believe in Fairy pra todo lado, com carimbo da ciência e tudo.

Décadas depois, evidentemente, se compreendeu que tudo não passou de um mal entendido, causado pelo fato de ossos fossilizados diferentes terem sido encontrados próximos e, daí, ter se suposto serem do mesmo bicho. Tudo é real se você for louco o suficiente e chamar de ciência. Assim nascem os coaches.

Apesar de essa história alemã ser uma das mais famosas na tour dos falsos fósseis; na Inglaterra, um dos locais em que Galar se baseia, ideias similares também rolavam a solto porque a ilha britânica estava se edificando como epicentro europeu das descobertas dinossáuricas. Não à toa, o primeiro estudo de um dinossauro e o primeiro registro desse termo "dinossauro" (que significa algo similar a lagarto gigante) aconteceram lá, em Oxford, região pioneira nessa ciência.

Ao passo que estudos sérios se fortaleciam e efervesciam o coração da comunidade científica com a novidade, muita gente charlatã viu ali uma boa chance de ganhar dinheiro montando fóssil falso feito com resina, plástico, cimento, criatividade, açúcar, tempero e tudo que há de malandragem. Com isso, exposições de hominídeos e seres míticos, como a do unicórnio germânico, continuaram prosperando em solo britânico, além, claro da montagem equivocada de fósseis de dinossauro.

A essa altura, eu espero que você já tenha entendido onde entra o bizarro design dos fósseis de Galar, certo?

Ao contrário das outras regiões, os fósseis em Galar não são encontrados completos, mas sim pedaços porque, provavelmente se queria fazer referência a esse período da “Corrida dos Fósseis”. Por isso, quando se vai reviver um fóssil em Galar, ele sai uma quimera: um lado puxou a mãe e o outro ao pai, justamente como era no período pré-Paleontologia. Caos.

Infelizmente, traduziram o nome dessa desquerida em PTBR para Clara Petra, porque em inglês a sonoridade de "Clara Liss" dava a ideia da CARA LISA dela misturando fósseis nada a ver e fingindo que tá tudo bem.

Claro que, em geral, ninguém acha eles bonitos, sobretudo o Dracovish, que até o lado do rabo foi grudado errado no pedaço da cabeça, deixando a carne prolapsada parecendo um cyzão e não uma barriga. Mas, enfim, a ideia era essa mesmo, a referência é a bagunça, o bizarro, a esquisitice.

Em outras palavras, se fossem feitos de uma forma que ficassem harmoniosos ou bonitos de ver, a imersão histórica se perderia.

Ainda assim, gosto de ver as fanarts imaginando como são a versão "original" completa do bicho e como seriam outras misturas que os jogos não permitiram. A reflexoa mais completa, e de que eu mais gosto, é essa daí de baixo feita pela RZGmon200.

Enfim, explicado tudo, lembre a lição que inicia este artigo. Pode continuar achando terrível, e, neste caso, esse era exatamente o objetivo. Quanto menos você gostar, mais o James Turner de fato acertou na escolha criativa e direção de arte. Que aventura maravilhosa é o Design de Personagem, não é? O ruim é o bom.

Às vezes a rejeição é o propósito, é o acerto, é a razão. Não a beleza. E, melhor não reclamar, poderia ser pior:

Imagem feita pelo Elite.4 e proibida em mais de 151 países.

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